O tema é polêmico e não é só coisa de filósofo: a liberdade de escolha vem sendo discutida pelos cientistas desde os anos 60. Veja o que a ciência tem a dizer sobre o livre arbítrio – ou a falta dele
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Nos anos 60, dois cientistas alemães, Hans Helmut Kornhuber e Lüder Deecke, descobriram um fenômeno que eles chamaram de bereitschaftspotential, uma palavra grande e feia que quer dizer “potencial de prontidão”. Esse é o nome que eles deram pra dizer que nosso livre arbítrio não só é relativo como muito provavelmente falso. Nossas escolhas são muito mais fruto da nossa inconsciência do que qualquer outra coisa. Uma ideia incômoda, mas ao mesmo tempo longe de ser um consenso.
O experimento funcionou assim: os voluntários deveriam mexer os dedos, uma tarefa aparentemente simples e deliberada. O cérebro dos participantes estava sendo scaneado durante essa tarefa e foi exatamente esse eletroencéfalograma que mostrou que até as ações mais simples são motivadas pelo nosso inconsciente: a atividade do córtex motor, área responsável pela movimentação e coordenação motora, diminuía um pouco antes dos dedos de fato se mexerem.
O trabalho foi largamente ignorado pela comunidade científica – muito devido ao seu caráter revolucionário, quase transgressor: quer dizer que nós, humanos, a espécie mais evoluída de todas, não tem poder de escolha? Mas com o passar do tempo e o avanço da tecnologia esse ponto de vista ganhou mais espaço na comunidade científica.
Em 2008, em um estudo publicado na Nature com o título Determinantes Inconscientes de Decisões Livres no Cérebro Humano, ficou provado que a decisão começa a ser formada no cérebro até 10 segundos antes dele tomar consciência disso. Você se prepara inconscientemente pra fazer algo bem antes de sequer se dar conta que está fazendo isso – e bem antes de realizar o movimento de fato. Outros estudos, dessa vez focados na atividade de cada neurônio em vez do cérebro como um todo, mostraram que as células neurais ficavam ativas antes da decisão de apertar um botão, por exemplo. Essa pesquisa conseguiu prever com até 90% de precisão a hora que a decisão seria tomada.
Críticos dizem que o livre arbítrio é muito mais profundo do que os resultados dessas pesquisas nos induzem a pensar. Em vez de mexer dedos e apertar botões, seria necessária a análise de atividades mais complexas. Mas mesmo essas tarefas mais abstratas e intelectuais do que propriamente de movimento não são totalmente espontâneas - elas dependem de coisas como carga genética, experiência, traumas de infância etc. Mas isso não precisa ser ruim. Como o neurocientista americano Sam Harris escreveu em seu livro Free Will (Livre Arbítrio) “Reconhecer que minha mente consciente nem sempre vai originar meus pensamentos, intenções e ações não muda o fato que pensamentos, intenções e ações de todos os tipos são necessários para uma vida feliz”.
Fonte: Revista Galileu
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